AS HEMMFLICKVAN E SOFTS GIRL: O PAPEL DO DESIGN NO "S" DO ESG E O CONFLITO DOS ODS


AS HEMMFLICKVAN E SOFTS GIRL: O PAPEL DO DESIGN NO "S" DO ESG E O CONFLITO DOS ODS

 Vilma Larsson

ilma@vilmalarsson.com  

Introdução

A Agenda 2030 da ONU propõe 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que abordam questões globais como a erradicação da pobreza, igualdade de gênero, educação de qualidade e promoção da paz e justiça. No contexto do ESG (Environmental, Social and Governance), o aspecto social ("S") tem se tornado uma pauta estratégica para empresas e governos. O papel do design nesse cenário é essencial, pois atua como mediador entre inovação, impacto social e sustentabilidade.

Neste artigo, exploramos a relação entre as ideias representadas pelos termos "Hemmflickvän" e "Softs Guirl" e sua interseção com o papel do design no fortalecimento dos valores sociais dentro do ESG.

Além disso, analisamos como a filosofia do empresariado dialoga com a prática do design, refletindo escolhas que impactam positivamente os ODS, especialmente no que diz respeito ao empoderamento feminino, diversidade, inclusão, bem-estar infantil, educação e democracia.
A Origem dos Termos "Hemmflickvän" e "Softs Guirl"

Os conceitos "Hemmflickvän" e "Softs Guirl" podem ser compreendidos como metáforas para as diferentes facetas da experiência feminina e dos desafios de inclusão e diversidade nas sociedades contemporâneas. "Hemmflickvän", de origem sueca, remete a uma visão tradicional da mulher em papéis pré-definidos, enquanto "Softs Guirl" evoca a resiliência e adaptabilidade femininas em um mundo em constante transformação. No campo do design, essas metáforas dialogam diretamente com a busca por soluções criativas que promovam sociedades mais equitativas.


AS HEMMFLICKVAN E SOFTS GUIRL: e o papel do Design no S do ESG


Na Suécia, algumas jovens estão adotando um estilo de vida chamado hemmaflickvän, ou “namorada que fica em casa”. Em vez de focar em carreira e sucesso profissional, elas preferem uma vida mais tranquila e delicada, como parte da tendência soft girl, que pensam no futuro ter filhos e cuidar da educação deles, e não viverem estressadas como suas avós e mães.

Uma pesquisa mostrou que 14% das meninas de 14 até 27 anos desejam esse estilo de vida. A pesquisadora Johanna Göransson explica que isso é uma reação à pressão para ser uma “girl boss” – ou seja, uma mulher que precisa ter sucesso em tudo.

Não há muitos dados sobre quantas realmente param de trabalhar, mas algumas, como Vilma Larsson, já vivem assim. Ela deixou o emprego há um ano e diz que nunca foi tão feliz. Seu namorado trabalha de casa com finanças e dá um valor mensal para ela. Enquanto ele está no laptop, Wilma vai à academia, toma café ou cozinha.

O tema virou um grande debate na Suécia, sendo discutido na TV, em jornais e até em eventos políticos.

Ela usa as hashtags hemma flickvän e hemmafru (que significam "namorada que fica em casa" e "dona de casa", em sueco) e se descreve como uma soft girl — identidade feminina que adota um estilo de vida mais meigo e delicado, em vez de se concentrar em uma carreira profissional.

O estilo soft girl tem sido uma tendência nas redes sociais em diferentes partes do mundo desde o fim da década de 2010. Mas na Suécia — com cinco décadas de políticas destinadas a promover famílias com dupla renda —, a recente popularidade do conceito provocou surpresa e divisão.

O Ungdomsbarometern, uma pesquisa anual feita com jovens na Suécia, destacou pela primeira vez as suecas que adotaram a tendência soft girl há um ano, depois que esta se tornou uma escolha popular quando jovens de 15 a 27 anos foram convidadas a prever as tendências para 2024.

Outro estudo divulgado pelo Ungdomsbaromatern, em agosto deste ano, sugeriu que estava se tornando uma aspiração até mesmo entre as estudantes mais jovens, com 14% das meninas de 14 a 27 anos se identificando como soft girls.

No entanto, o assunto se tornou um dos principais temas de discussão na Suécia, desde em artigos de opinião em jornais de grande circulação até em painéis de debate no Almedalen — um grande evento político anual — e na emissora pública de televisão sueca.



Gudrun Schyman — cofundadora e ex-líder do partido feminista sueco Feministiskt initiativ — afirma que participou de debates recentes sobre o assunto. Ela acredita que as mulheres dependerem da prosperidade de seus parceiros é "muito perigoso" — e "um passo atrás" para a igualdade de gênero.

Schyman argumenta que as jovens suecas foram influenciadas pelo governo de coalizão de direita do país, que colabora com o partido nacionalista Democratas da Suécia, assim como pelo "desenvolvimento mais amplo" do populismo na Europa e nos Estados Unidos.
FOTO: Tomada de redes sociais
Gudrun Schyman, cofundadora del partido Feministiskt
initiativ y reconocida política feminista sueca.

Ela também acha que há uma falta de conhecimento sobre como era a vida na Suécia antes da adoção de políticas destinadas a promover a igualdade de gênero, como creches altamente subsidiadas e licença parental compartilhada.

"As jovens de hoje não carregam a história de como as mulheres tiveram que lutar pelos seus direitos — o direito de trabalhar, o direito de ter um salário e o direito à independência econômica."

Vilma Larsson — que deseja ter filhos no futuro — afirma que sua decisão de se tornar uma namorada que fica em casa se deve, em parte, ao fato de observar mulheres mais velhas lutando para conciliar a carreira e a vida doméstica.

Foto tomada da rede social de Vilma Larsson


"Acho que muitas mulheres se sentem esgotadas com o trabalho", diz ela.
"Penso na minha mãe e na mãe dela, minha avó, e na minha irmã, em todo mundo. Elas estão sempre muito estressadas."

Na Agência de Igualdade de Gênero da Suécia, financiada pelo Estado, Peter Wickström, chefe do departamento de análise e monitoramento de políticas, também acredita que a tendência das soft girls pode ser vista como uma "reação racional" às "exigências" percebidas pelas mulheres mais jovens.



Vilma 🦋 
💌 vilma@vilmalarsson.com  
www.youtube.com/@viilmalarsson + 1

O Design como Ferramenta de Transformação Social no ESG

O design não é apenas uma disciplina estética; é uma ferramenta estratégica que impulsiona mudanças comportamentais e estruturais. No campo social do ESG, o design desempenha funções cruciais, como:

Desenvolvimento de produtos e serviços inclusivos: Criação de soluções acessíveis a grupos vulneráveis, como mulheres, crianças e minorias.

Comunicação visual para impacto social: Uso do design gráfico para campanhas de conscientização e inclusão.

Espaços urbanos mais inclusivos: Arquitetura e design urbano para acessibilidade, segurança e integração comunitária.

Inovação social: Aplicação do design thinking para gerar soluções colaborativas e sustentáveis.


A Filosofia do Empresariado e o Papel do Designer no "S" do ESG

Em um cenário onde as escolhas estratégicas definem o futuro das organizações, a filosofia do empresariado – pautada por princípios éticos, inovação e responsabilidade social – vem se conjugando com a prática do design para criar abordagens mais holísticas e integradas. Essa convergência se manifesta em diversos aspectos:

Liderança com visão inclusiva: Empresários e líderes corporativos têm buscado, cada vez mais, alinhar suas estratégias a valores que promovem a diversidade e a inclusão. Ao integrar o design como ferramenta de inovação, essas lideranças não só ampliam o impacto social de suas iniciativas, mas também estabelecem uma cultura organizacional que valoriza a criatividade e a empatia.

Decisões baseadas em dados e experiências humanas: O design oferece metodologias, como o design thinking, que combinam análises de dados com a compreensão profunda das necessidades humanas. Esse método auxilia os empresários a tomar decisões que consideram tanto a viabilidade econômica quanto o impacto social, harmonizando os interesses do negócio com as demandas sociais.

Inovação colaborativa: A interação entre a mentalidade empresarial e o processo criativo do design promove um ambiente de colaboração que ultrapassa os limites tradicionais. Essa sinergia é crucial para desenvolver produtos, serviços e estratégias que atendam aos desafios contemporâneos, impulsionando soluções que respeitam e promovem os ODS.

Conflitos entre os ODS no Contexto do ESG


Embora os ODS tenham sido desenvolvidos para serem interdependentes, na prática, há conflitos entre alguns de seus princípios. No contexto do ESG, destacam-se os seguintes dilemas:

Empoderamento feminino vs. Bem-estar da criança: O crescimento da participação feminina no mercado de trabalho deve ser acompanhado por políticas de suporte à primeira infância e igualdade de responsabilidades parentais.

Diversidade e inclusão vs. Desafios educacionais: A implementação de currículos mais diversos e inclusivos pode gerar resistência em sistemas educacionais tradicionais, dificultando mudanças estruturais.

Sustentabilidade vs. Democracia: Algumas políticas ambientais ou sociais podem gerar tensões entre desenvolvimento econômico e liberdade de escolha da população.


CONSIDERAÇÕES: SOMOS SERES EM CONSTRUÇÃO

À medida que avançamos em direção às metas da Agenda 2030, o desafio está em encontrar um ponto de equilíbrio entre os diferentes ODS, respeitando a diversidade cultural e social. O design, aliado a uma liderança empresarial comprometida com a ética e a inclusão, tem o potencial de promover um futuro mais justo e sustentável para todos.

O design tem um papel fundamental na mediação desses conflitos e na promoção de soluções que equilibrem inovação, justiça social e sustentabilidade? Tem!

Ao considerar o "S" do ESG, empresas e governos precisam investir em abordagens de design centradas no ser humano e integradas a uma filosofia empresarial que priorize a responsabilidade social. Essa sinergia entre o empresariado e o design pode ser um agente transformador, capaz de alinhar escolhas estratégicas com os desafios contemporâneos dos ODS? Imprescindível!

Mas sem reflexão? Sem levarmos em conta as culturas de cada Nação? Nem pensar!

Sem levarmos em conta o indivíduo? Menos ainda, pois estaríamos criando uma sociedade doente, exatamente o que alguma parcela da Elite dominante deseja.

Houve um tempo em que os caminhos eram únicos e inquestionáveis. Crescer, estudar, trabalhar, prosperar. A independência feminina tornou-se uma conquista, um símbolo de liberdade, uma resposta à opressão de séculos. Mas a vida, sempre em movimento, tece novos desejos, desperta outras sensibilidades e molda novas vontades. Hoje, algumas jovens na Suécia escolhem um caminho diferente, resgatando o prazer da vida doméstica, da delicadeza do cotidiano, da suavidade de uma existência menos frenética.

Não se trata de retrocesso ou de avanço, mas de escolha. E o direito de escolher deve ser tão valorizado quanto qualquer conquista coletiva.

O fenômeno hemmaflickvän, ou "namorada que fica em casa", tem causado debate em uma sociedade que durante décadas incentivou a dupla renda familiar como padrão de sucesso. Mas o sucesso, afinal, tem quantas formas? Quantas cores? Quantas nuances?

Enquanto elas estão indo na contramão da agenda do "empoderamento", esse movimento traz à tona uma reflexão sobre o S do ESG e o papel do Design em respeitar essas particularidades. O "S" do ESG – o pilar social – não deve ser um molde rígido que encaixa indivíduos em padrões predefinidos. O verdadeiro impacto social nasce da diversidade de escolhas e da liberdade para que cada pessoa encontre o seu próprio caminho sem julgamentos.

O Design, como ferramenta de transformação, precisa abraçar essa multiplicidade. Ele deve criar soluções inclusivas que contemplem diferentes estilos de vida, sem impor um modelo único de sucesso. Design não é apenas estética ou funcionalidade, mas também um canal de expressão cultural e individual, que deve dialogar com as necessidades e aspirações de cada geração.

Somos múltiplos, somos únicos, e não há um destino universal que se imponha a todos. Nem todas querem ser 'girl bosses', nem todas querem ser 'soft girls'. Algumas querem transitar entre os dois mundos, e isso também deve ser aceito. Reduzir uma geração a um rótulo é negar sua complexidade, sua riqueza, sua potência de transformação.

No fim, a verdadeira liberdade não está em seguir um modelo ou outro, mas em poder escolher, sem culpa e sem medo, o que faz sentido para cada um. Porque a felicidade não se define pelo olhar do outro, mas pelo compasso sereno de quem encontrou seu próprio ritmo no mundo.

Por isso não uso mais em meus artigos a palavra Conclusão, porque estamos longe de concluir algo. Ou melhor, enquanto parte desta sociedade afirmo que estamos sendo! Não há um ser humano sequer que esteja pronto, estamos em plena construção, e aqui está a beleza da vida!


Obrigada por ler, mas este é um espaço democrático, pode opinar e debater, porque sem fórum, não há crescimento humano.

Tenho um pedido: Poderia contribuir com meu trabalho enquanto estou em transição de carreira, ao menos com 10 reais mensais? Ajudaria muito, nem imagina quanto!

Obrigada!

Cordialmente,

Angela Camolese







Comentários

Postagens mais visitadas